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O caminho da prosperidade: Imunização e reformas
Internacional
1. Pacote de estímulos no valor de U$ 1,9 trilhão aprovado pelo congresso norte-americano,
conforme o esperado;
2. Pandemia segue preocupando, mas a tendência de recuperação a médio/longo prazo
permanece, ainda que mais lenta do que o esperado;
3. Risco de inflação global aumenta sua participação no debate econômico, sem surpresas.
Doméstico
1. Velhos problemas: aumento dos preços dos combustíveis traz novas tensões ao econômico
e demissão de Castello Branco da presidência da Petrobrás abala (ainda mais) a confiança do
mercado e aumenta a percepção de risco;
2. Recrudescimento da pandemia provoca uma piora nas condições sanitárias do País, com
elevação significativa do número de óbitos e ameaça seriamente o sistema de saúde de
muitos estados. O vigor da retomada econômica é obliterado;
Uma mensagem da Scopo para você.
Sem grandes novidades no cenário internacional, em fevereiro tivemos a confirmação de questões relevantes para a economia global. Nos Estados Unidos, foi aprovado o pacote de estímulos fiscais de U$ 1,9 trilhão, que prevê, dentre tantas outras medidas, aumento no valor do auxílio desemprego e pagamentos diretos do governo para famílias com renda de até 160 mil dólares.
O projeto aprovado pelo Congresso já era esperado por investidores e analistas e, embora preveja um teto para o valor dos benefícios para cada família ou indivíduo, bem como um prazo mais curto para que os estímulos sejam pagos, o tamanho do pacote aprovado deve impulsionar o crescimento da economia americana até pelo menos o ano que vem.
A economia americana já vinha apresentando sinais positivos desde o final do ano passado e as tendências observadas até o momento com relação ao Coronavírus contribuem para o otimismo. Segundo o site Our World in Data, mantido pela Universidade de Oxford com números da Johns Hopkins University, o número de casos nos EUA vem caindo consistentemente desde a primeira metade de janeiro, embora esta tendência tenha sido interrompida nos últimos dias de fevereiro. Segundo o mesmo site, os EUA são, de longe, o país que mais vacinou no mundo em termos absolutos, com mais de 75 milhões de doses aplicadas até o fim de fevereiro (Gráfico 1). A China, segundo do ranking, aparece com pouco mais de 52 milhões de doses, e a União Europeia contabilizava quase 34 milhões de doses administradas, enquanto o Brasil aparece com 8,4 milhões (Gráfico 2).
A pandemia ainda apresenta riscos relevantes tanto para a saúde e a vida da população, quanto para a retomada econômica global, em especial tendo em consideração as novas variantes do Coronavírus e os desafios de logística de distribuição e de produção das vacinas pelo mundo. Até o momento, contudo, estes riscos ainda não ameaçam, no longo prazo, a tendência de normalização da atividade econômica. Seguiremos monitorando.
Finalmente, parece que o mercado acordou para as perspectivas de pressões inflacionárias em decorrência dos estímulos fiscais e monetários amplamente implementados por governos e autoridades monetárias mundo afora. De maneira geral, os índices oficiais de inflação das principais economias globais ainda não representam grandes preocupações, mas inúmeros indícios deste fenômeno já podem ser observados, o principal deles os recorrentes aumentos nos preços de commodities. Para nossos leitores, isto também não é nenhuma novidade, além, talvez, da angariação de novas vozes de maior proeminência no mercado ecoando alertas e preocupações relacionados a esta questão. Reforçamos nossa visão de que este cenário de inflação global e um eventual boom de commodities é favorável ao Brasil.
Por aqui, velhos problemas…
O aumento do preço do petróleo no mercado internacional fez com que a Petrobrás elevasse o custo dos combustíveis nas refinarias em meados de fevereiro, conforme a política de preços da Companhia. Em resposta, o Presidente Jair Bolsonaro demitiu, de ofício, o então presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco.
A medida foi muito mal-recebida pelo mercado que, além da ingerência política na Petrobrás, enxergou um sinal de que o atual governo não está disposto a enfrentar os desafios do País, preferindo ceder a grupos de pressão e/ou medidas populistas para ganhos político-eleitorais. A mensagem de desprezo à governança e ao livre mercado, aumentou significativamente a percepção do Risco-Brasil, trazendo impactos para o mercado como um todo. Nas semanas posteriores à demissão de Castello Branco até o fechamento do mês, o Ibovespa caiu mais de 7%, enquanto as ações preferenciais da Petrobras (PETR4) chegaram a ser negociadas abaixo de R$ 22,00, uma queda de mais de 26%, frente ao patamar de pouco mais de R$ 30,00, antes do embate com o executivo da estatal. O Dólar subiu mais de 4% nos cinco pregões seguintes fechando o mês cotado a R$ 5,60, a despeito das repetidas intervenções do Banco Central para conter a alta.
O Brasil enfrenta também o desafio do recrudescimento da pandemia, apresentando uma clara tendência de elevação tanto no número de casos quanto de óbitos, na contramão da tendência global. Nesta seara: dois fatores contribuem para uma maior complicação: a menor disponibilidade de leitos e a morosidade do governo na aquisição, produção e distribuição das vacinas. Sinais claros de gestões desastrosas no enfrentamento da crise sanitária de maneira generalizada, nos diferentes níveis e esferas de governo. Além do principal problema, a perda de vidas, a consequência mais imediata foi o retorno de medidas restritivas nas regiões mais críticas e, claro, a paralização da recuperação econômica em todo o País. Este desdobramento foi surpreendente para nós, da Scopo, que não imaginávamos voltar a ver uma deterioração tão significativa da crise sanitária. A julgar pelos aumentos mais acentuados no número de casos confirmados a partir do dia 10 de janeiro, parecemos ter subestimado os efeitos das festas de final de ano.
Ainda assim, o maior desafio para o desenvolvimento socioeconômico brasileiro sustentável a longo prazo está longe de ser a atual crise sanitária. Os velhos problemas ainda nos afligem mais: irresponsabilidade fiscal, um estado paquidérmico que gasta muito e mal; um ambiente legal e regulatório inadequado, arcaico e absolutamente hostil ao ambiente de negócios, com carga tributária elevada, complexidade ímpar e insegurança jurídica. Um conjunto de fatores que tem se mostrado uma forte barreira de entrada para o surgimento e a prosperidade para muitas empresas e projetos de investimento.
Nossa mensagem final para você
Nossa mensagem final para você Este mês decidimos fazer uma carta diferente. Esta seção se propõe a falar do que realmente importa para você. Diante de todas essas informações, cenários e incertezas, tentamos condensar neste pequeno texto algumas reflexões relevantes para os seus investimentos e o seu planejamento financeiro.
Nada do que abordaremos aqui é novidade para nossos clientes. Todas as pessoas que já realizaram algum trabalho conosco, seja de planejamento financeiro ou gestão patrimonial, sabe que não confiamos na capacidade de analistas, gestores, economistas e especialistas em geral (principalmente dos “especialistas”) de adivinhar o futuro. Para onde vai a bolsa, se o Dólar vai subir ou cair e “qual é a próxima ‘Magalu’” são questões que ouvimos com frequência e para as quais não temos (e nunca teremos) respostas minimamente satisfatórias.
Mais importante ainda, essas questões revelam uma característica natural comum a todos: o desconforto sobre a incerteza. Muitas vezes esse desconforto, ou a busca da “certeza” de ganho, acabam por impedir que as pessoas sigam estratégias muito mais simples e eficazes para a prosperidade financeira e a construção do seu patrimônio gerador de renda. Pior do que isso, revelam um desejo natural pelo atalho, um caminho mais fácil e rápido para ganhar dinheiro e conquistar sua tranquilidade financeira.
O único problema é que este atalho não existe, é uma ilusão. Em 99,9% dos casos, acertar um ou outro grande movimento de bolsa não irá mudar a vida de ninguém, em termos de sua realidade financeira e seus objetivos. Na vasta maioria das vezes esse mindset irá, na melhor das hipóteses, te prover ganhos baseados puramente em sorte. Esta é a mentalidade predominante da maioria dos investidores menos experientes, que infelizmente ainda são a maioria dos CPF’s de muitos mercados de investimento, como Tesouro Direto e a B3 (nossa bolsa de valores). Não é atoa que ainda ouvimos por aí que “bolsa é igual cassino”. Na pior das hipóteses você pode perder todo o seu investimento. O que vemos acontecer com maior frequência é uma decepção, seja por perdas aceitáveis ou ganhos abaixo do esperado, que desvirtua a pessoa do caminho realmente mais eficaz para o acúmulo de capital. Como consequência, você acaba ficando mais distante dos seus objetivos financeiros.
O caminho que propomos aos nossos clientes não é um atalho, mas sim uma rota consciente e consistente baseada em dois pilares fundamentais. Em primeiro lugar, sua força de trabalho, a sua renda primária é o que te possibilita investir para a construção do seu patrimônio. O segundo pilar é a sua disciplina e determinação para seguir um planejamento estrategicamente customizado para você, de acordo com o seu perfil, seus objetivos e horizonte de investimento. Por fim, nossa estratégia precisa que o investidor aceite e até acolha a incerteza, aprendendo a lidar e até mesmo a lucrar com ela.
A verdade é que na vida, assim como nos investimentos, tudo o que podemos fazer com relação aos riscos e incertezas da nossa condição, é escolher quais riscos queremos correr e o quanto estamos dispostos a nos expor a eles. Uma pessoa que tem medo de viajar de avião, por exemplo, pode optar por não se expor a este risco, viajando sempre de carro ou ônibus. Ao fazê-lo, ela certamente reduz drasticamente ou elimina sua exposição ao risco de sofrer um acidente aéreo. Por outro lado, ela opta (conscientemente ou não) por aumentar sua exposição a acidentes de carro.
Trazendo para o mundo dos investimentos, é preciso esclarecer alguns pontos importantes. Estatisticamente, risco é definido pela probabilidade de um resultado diferente (e não inferior) do esperado. O principal risco associado aos investimentos é a volatilidade, que é percebida através das oscilações dos preços dos ativos responsáveis pelos ganhos e perdas dos investidores no mercado financeiro. Desta forma, um ativo que possui um baixo risco de volatilidade possui uma chance muito remota de entregar um resultado diferente do esperado. Costumamos pensar em risco como algo ruim e certezas, garantias e estabilidade como algo bom. ‘Mas esta não é a visão dos melhores investidores do mundo. Qual é a chance de um CDB com remuneração’ pré-fixada em 7% ao ano entregar para o investidor um resultado de 25% ao ano? Nenhuma. Ainda que se configure o melhor dos cenários, a remuneração do investidor será aquela contratada no ato da aplicação, (7% a.a.). Isto porque o CDB não está sujeito à volatilidade. Entre o início de 2016 e o final de 2020 (já após o estouro da pandemia, vale dizer), o Ibovespa mais do que triplicou. Isto representa um ganho anualizado de aproximadamente 25%. Isto só foi possível por causa da volatilidade, do risco e das incertezas inerentes à todas as áreas da nossa vida, inclusive nos investimentos.
Nossas cartas mensais, muito similarmente a outros documentos disponíveis no mercado, se propõem a trazer uma leitura dos principais acontecimentos do mês, oferecendo a nossa tradução dos pontos mais relevantes para nossos clientes. Infelizmente, não fornecemos muitas respostas quanto ao desfecho dos desafios apresentados ou quais dos caminhos a economia brasileira tomará. Em nossa defesa, gostaríamos de salientar que: (i) adivinhar o futuro é humanamente impossível; e (ii) isso nunca foi necessário para realizar bons investimentos, acumular patrimônio e conquistar objetivos financeiros.
Uma vez que aceitamos a inexorabilidade da incerteza na nossa vida, nos liberamos para tarefas muito mais produtivas do que a infeliz tentativa de prever o futuro. A mais importante delas é evitar os atalhos, focando nas atitudes que estão ao seu alcance para a conquista dos seus objetivos financeiros: proteção patrimonial, estratégia de investimentos, disciplina e determinação para investir sempre, respeitando seu perfil e com os seus objetivos em mente. Independentemente do cenário que nos aguarda, esta é a estratégia que apresenta os melhores resultados a longo prazo.