Principais conceitos econômicos e o cenário de investimentos no Brasil.

CONCEITOS  

Selic: Taxa de juros da economia determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), órgão  do Banco Central (Bacen) que se reúne a cada 45 dias para definir a taxa Selic. Trata-se da principal  ferramenta de Política Monetária do Banco Central no combate à inflação. Juros altos significam  crédito mais caro e maiores rendimentos das aplicações de renda fixa, o que tende a desincentivar  o consumo e o investimento na economia real (fábricas, infraestrutura, etc.), prejudicando por sua  vez a criação de riquezas, a geração de empregos e o consumo.  

Inflação: A maioria das pessoas entende a inflação como o aumento de preços generalizado da  economia. A inflação fora de controle é altamente danosa para o crescimento econômico e para o  bem estar social, uma vez que provoca um aumento do custo de vida das pessoas, gera  instabilidade econômica e inibe investimentos, se retroalimentando no processo. A inflação também  pode ser entendida como a perda de valor da moeda (é preciso mais “moeda” para se comprar o  mesmo produto), por isso esta é uma questão de Política Monetária do Banco Central. O principal  papel do Banco Central no Brasil é preservar o valor da moeda (proteger a economia e a sociedade  da inflação), por isso um Banco Central independente e bem gerido tenderá a combater este  fenômeno, agindo quando identifica pressões inflacionárias. A principal ferramenta de Política  Monetária do Banco Central no controle da inflação é a taxa básica de juros (Selic), aumentando-a  frente a expectativa de alta da inflação, e reduzindo-a quando a inflação está baixa, favorecendo o  aquecimento da economia. Existem diferentes índices para se calcular a inflação média de  diferentes produtos e serviços na economia, os principais são o IPCA (Índice de Preços ao  Consumidor Amplo), medido pelo IBGE, e o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), publicado  pela FGV.  

CDI: O Certificado de Depósito Interbancário (ou Interfinanceiro) é uma espécie de empréstimo de  curto prazo entre instituições financeiras (feito de um banco para outro banco) com o objetivo de fecharem sua tesouraria de acordo com as normas do Banco Central. A taxa do CDI é calculada  diariamente com base nestes depósitos entre bancos e, por isso, acabou se tornando uma  referência ou um benchmark para outros depósitos bancários efetuados por pessoas físicas e  empresas, e até mesmo para aplicações de renda fixa. Quando uma pessoa aplica em um produto  que rende 90% do CDI, isto significa que sua remuneração está 10% abaixo da referência de  mercado. Quando a taxa da aplicação é 110% do CDI, sua remuneração está 10% acima. A taxa  do CDI está diretamente ligada à taxa Selic, isto é: quando a Selic sobe, o CDI sobre praticamente  na mesma proporção. A taxa do CDI é necessariamente muito próxima da taxa Selic e, portanto,  um rendimento atrelado ao CDI tenderá a subir nos ciclos de alta de inflação, quando o Banco  Central eleva a Selic para conter a inflação, e tenderá a cair nos ciclos de queda da inflação, quando  o Banco Central reduz a Selic estimulando a atividade econômica. 

Juro Real e Rendimento Real: Juro real é a diferença entre a taxa básica de juros (Selic) e a  inflação (geralmente o IPCA). O rendimento real de uma aplicação é o rendimento nominal deduzido  da inflação no período. Este é um conceito extremamente importante para o planejamento financeiro  de longo prazo, uma vez que a inflação corrói o poder de compra da renda e do capital investido.  Por isso é fundamental se assegurar que os ganhos obtidos nos investimentos sejam ganhos reais  (ie. acima da inflação) suficientes para se alcançar os objetivos financeiros almejados. 

 

SOBRE O CENÁRIO DE INVESTIMENTOS NO BRASIL  

Durante a maior parte dos últimos 25 anos a taxa SELIC esteve na casa dos dois dígitos. No final  dos anos 90, o Brasil e o recém criado Real passaram por uma importante crise financeira que  forçou o Banco Central a elevar a Selic para mais de 30% ao ano, chegando a mais de 40% no final  da década. Mesmo depois de superados os momentos mais críticos desta crise, a taxa Selic variou  de 15% a 20% ao ano por muito tempo, chegando a passar dos 25%, até retomar uma longa  tendência de queda chegando, finalmente, abaixo dos 10% em 2009.  

Este cenário de juros elevados fez com que o País ficasse conhecido como “o país da renda fixa”.  Isso porque, mesmo aplicando em produtos relativamente ruins, com retornos bem abaixo do CDI,  muitas vezes o investidor conseguia obter um ganho real significativo, mesmo sem se dar ao  trabalho de escolher bons produtos e sem se expor a grandes riscos.  

Para ilustrar melhor este cenário, quando a Selic passou dos 20% ao ano, em janeiro de 2003, o  rendimento mensal médio de aplicações atreladas a este indicador era de aproximadamente 1,53%!  Isto significa que aplicações de renda fixa que rendiam 1% ao mês eram extremamente ruins,  comparadas com a referência de mercado, pois rendiam apenas 65% do CDI do período. Mesmo  em um patamar de Selic a 15% ao ano, bastante baixo na história do Real até 2006, o rendimento  mensal era de 1,17%. Pode não parecer muito, mas isto significa que um rendimento de 1% ao mês  ainda seria péssimo (apenas 85% do CDI). Ou seja: durante boa parte dos últimos 25 anos, foi  muito fácil obter retornos expressivos (acima de 1% ao mês), sem se preocupar muito em fazer  bons investimentos.  

A realidade que vivemos agora é outra, e este novo cenário de patamar de juros mais baixos pode  ter vindo para ficar. A Selic se encontra no nível mais baixo de sua história, tendo chegado a 5% ao  ano em novembro de 2019. O IPCA, a inflação oficial, dá sinais de estar confortavelmente sob o  controle do Bacen, abaixo de 3,5% ao ano (a meta do IPCA para 2020 é de 4%). Isto significa,  dentre outras coisas, que o investidor da renda fixa terá que se contentar com investimentos entre  0,4% e 0,5% ao mês. Mesmo assim, precisará pesquisar e ficar atento para fazer boas aplicações  a fim de obter tais retornos.  

Ainda não está claro o quão duradouras serão estas novidades. É impossível predizer se os  inúmeros fatores, domésticos e internacionais, que propiciaram tamanha mudança de patamar se  manterão nos próximos 5, 20 ou 30 anos. Mas fato é que precisamos encarar a possibilidade de  uma Selic na casa dos dois dígitos ter ficado para trás.  

Por outro lado, essa nova realidade abre espaço para o surgimento de outras oportunidades no  mercado de investimentos. As reformas estruturais quem têm sido implementadas nos últimos anos trouxeram maior credibilidade e estabilidade para a economia, gerando mais confiança para  investidores e empresas. A inflação sob controle e os juros baixos também contribuem  significativamente para um cenário econômico mais favorável.  

O crescimento de empresas especializadas em investimentos, com modelos de negócios  inovadores, democratizou o acesso da população aos melhores produtos financeiros disponíveis no  mercado, como fundos de investimento, ações, debêntures e títulos do tesouro. O mercado de previdência privada passou por uma revolução para atender as necessidades de investidores cada  vez mais criteriosos, em busca de melhores retornos, oferecendo fundos geridos por casas  especializadas e consagradas por seus produtos de alta rentabilidade e qualidade de gestão.  

As transformações no cenário brasileiro podem ser extremamente positivas para os investidores. O  acesso a bons produtos de investimento, conservadores ou arrojados, nunca foi tão amplo e fácil como é hoje. Neste cenário, estratégia e planejamento são as palavras de ordem na busca por seus  objetivos financeiros.

 

Lucas Vidigal,

Scopo Finanças Pessoais

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